domingo, 26 de fevereiro de 2012

Saudade física.

Dr. Brain e Mr. Heart conversavam:
- E quando falo dos braços?
- Eu adorava os braços e a forma como eles se encaixavam perfeitamente em mim, e quando esticava pra laçar meu pescoço.
- Hm. E a boca?
- Ah, era incrível né? Sempre gostava quando cutucava os lábios quando pensava, e adorava quando mordia minha bochecha.
- Tá, e do peito, não lembra?
- Claro que eu lembro, eu ficava encantado em deitar em tamanha maciez, tamanho aconchego e como os poros indicavam arrepio quando eu beijava o pescoço.
- Ah! E o pescoço?
- Eu adoro o pescoço, e como eu sempre sentia o melhor cheiro do mundo, e como eu roçava minha barba e como agradava ela.
- E quando pensa nos cabelos?
- Eu adoro os cabelos! Pra passar a mão, pra enroscar os dedos sem querer, pra puxar até e claro, pra sentir o perfume.
- E as pernas?
- Das pernas eu gosto do fato de elas sempre estarem entrelaçadas quando eu acordo.
- Mas, você fala mesmo de saudades? As últimas citações você fez falando no tempo presente.
- Sim, mas eu que eu percebo que vocês estavam errados quando falavam da minha saudade. Enquanto eu relembrava, eu revia, enquanto eu revia, eu revivi. Minha saudade não é momento, é sensação prolongada, é a definição de sentimento.
Enquanto eu pensava eu percebi que involuntariamente eu fechei meus olhos e então, difícil pra você compreender, mas não houve passado, nem futuro. Não era nada além de agora, de presente perfeito. 
Eu respirei fundo e senti o cheiro exato que eu não deveria saber qual é há algum tempo, eu senti em minhas mãos, o toque dos dedos menores que os meus.
Eu a vi, mesmo de olhos fechados.
Percebi que minha saudade é física, tal como som que ouço ou cheiro que sinto, não é só definição do imaginário. É concreto.
Eu senti, não como quando sinto fome, eu senti por fora, eu senti pra fora.
Eu não pensei como quem relembrava, eu vi algo novo, e eu sempre vejo.
Tão real como eu achei que fosse.
Então eu abri os olhos e percebi que sei o que é saudades, e sei como quem sabe que respira mesmo não vendo o ar.

Mas percebi que pensei nesse momento todo e veio a frase que mata quem não vai.
"Mas, e SE..."
O que eu senti depois era "se", "if", "si", entre todos os idiomas que nomeam o que é o erro.
SE mata, e mata mais que saudades.

Se saudades, sim.
Se não.



Tem saudade e saudação.