terça-feira, 19 de novembro de 2013

"Mas as palavras sempre me vieram como culpa, quase nunca como estrelas..." - Aprendendo A Mentir

Compartilhar

Quem foi o palhaço que disse que esse negócio de falar a verdade é bom? Quem foi esse sacana?
Isso foi a maior patifaria que eu já li na vida.
Enquanto éramos novos, diziam em todos os cantos que a mentira é um câncer na sociedade, que a mentira destrói, mata, corrompe. E que talvez o ser humano tenha prazer em mentir, e isso era errado!
Eu sempre levei a sério demais tudo que me parecia fazer sentido, então tomei isso como verdade. Não porque me via obrigado, mas porque eu achava bonito ser sincero. Sempre.
Era adolescente e comecei a ler alguns livros e ouvir algumas músicas que, talvez, tenham sido culpadas por isso. Tudo que eu ouvia me era muito sincero e honesto, ainda que muito sujo. Tudo que eu lia me parecia mágico, e me entrou na cabeça a ideia de que livros faziam mágica porque os poetas, escritores e artistas tinham um jeito único de lidar com os sentimentos, que provinha, provavelmente, do quanto eles conseguiam ser sinceros em suas palavras. Frase a frase. Página por página.
E eu, que sempre fui muito sensível, num contexto geral da palavra, e sempre tive a cabeça borbulhando de pensamentos doentios, psicodélicos, e coisas pra dizer, me encantei pela ideia de ser aberto.
Cabeça aberta, coração mais aberto ainda.
E de repente, me tornei quem eu sou. Alguém que ri muito de si mesmo, ao invés de tentar esconder defeitos e vender qualidades, alguém que adora discutir, porque adora expôr ideias e adora aprender coisas novas, alguém que não ataca as pessoas com sentimentos ponta de faca, mas que jamais esconde sentimentos que me vem como flores. Eu sou alguém que fala o que pensa, quando acha que tem que falar, o coração transborda. E também transbordam a cabeça e a alma, e sempre escapa.
Até aqui tudo parece bem bonito.
Até a segunda página, onde percebo que as palavras por vezes fogem de mim e nunca mais me voltam.
Eu me lembro de tentar conquistar o coração ou a cabeça pelos ouvidos de algumas meninas bonitas que conheci, ou mostrar pra amigos coisas que meus olhos viam mesmo, e não se costuma dar certo.
Enfim, a questão é que não se preza mais tanto pelo que é sincero, a individualidade vem batendo forte, obviamente, e só se preza mesmo pelo que nos agrada, e isso faz de mim, um escroto que sempre gostou de jogar palavras por aí, um azarado da porra.
Veja bem, não que eu não minta, eu minto pra caralho. Eu minto tanto quanto pessoas normais, talvez até mais, mas tenho sérios problemas de mentir quando eu me importo demais com a pessoa que vai ouvir, quando a verdade é boa de se ouvir, quando as coisas já me tornaram pigarro de cigarro na garganta, e não tá dando mais pra me conter.
Mas na maioria das vezes que as palavras fugiram de mim assim, igual aquelas dentes-de-leão, espalhadas no ar, e não dava mais pra pegar de volta, pois cada uma foi pra um lado e fez um sentido diferente.
Então, depois de estar mais velho, e cheio de minhas manias, começo aprender a mentir. A ocultar aquilo que me vem lá de dentro, que me acelera a pulsação só no pensar na possibilidade de falar, aquilo que me faz suar frio. Aquilo tudo já não tem tanta razão, já não se faz mais necessário, já não parece de grande importância.
Foda. Infelizmente pra mim sim, ainda tem tanta urgência, quando meu coração acelera, ou vem calafrios por conta de coisas boas, de algum sentimento bom que me bate.
Mas hoje, faz muito mais sentido guardar pra mim.
Hoje, percebo bem que parecer sem sentimento é muito mais atraente no geral pra esse mundo afora, do que ser aquilo que sou: alguém que aflora, que se transborda em tudo que faz, sente, pensa.
Então que se fodam as frases bonitas quem dizem pra você sempre se expressar, ser sincero. Foi um cara que não tinha merda na cabeça que pensou isso. De repente, ninguém nem disse nada disso e eu que entendi de algum lugar.
De qualquer forma, mentir parece fazer tão melhor para as relações sentimentais que tenho, e concluo isso pensando nas pessoas que passaram e não ficaram porque ouviram o que eu queria dizer.
Hoje é bem melhor parar por aqui, naquela ânsia que vem e passa, se a gente conta até dez.
Hoje fica assim, longe aqui do lado.
Distante aqui perto.
Eu, muito mais quieto.


"Não deixa as mulheres saberem que você liga, se não elas vão matá-lo."
- Bukowski

"Custou caro ser assim, fiel companhia a solidão, mas toda a dor valerá!"
- Rodrigo Lima

escrevi isso há uns tempos atrás, mas dias desses fez tanto sentido, que lembrei de postar agora!
eu até fiz uma música disso, mas só eu ouvi então não sei se ficou boa ahaha.

Enfim... Faz tanto sentido, e me lembrei duma música que fala, além da citada acima, sobre isso.. ou não! Enfim!
"Por tantas vezes pensei saber o que fazer
Mas sempre acabei por tomar cuspido em minha cara tudo o que acreditei
E já não posso suportar
Já não consigo acreditar que vai ser diferente ou vale a pena tentar
Carregamos tantos vícios que já não há virtudes pra contar
Cultivamos precipícios em que despencamos sem pensar
E a história não para e não procuramos saber se realmente queremos viver sem aprender
Como pude ser tão idiota e voltar se tantas vezes eu errei
Como pude segurar em suas mãos se eu sei
Sei que você vai me largar e que não vai adiantar o gosto amargo nunca vai passar
Carregamos tantos vícios que já não há virtudes pra contar
Cultivamos precipícios em que despencamos sem pensar
E nunca conseguimos nada
Todos sonhos que tivemos condenamos ao esquecimento e ao nosso próprio desprezo
E nós que tanto lutamos, tanto sofremos e erramos, acabamos por achar tudo aquilo sem graça demais
De nada vai adiantar fingir certeza em seu olhar
Se toda vez terminamos por recolher os cacos que restaram de nossa auto-estima
Quando outra vez plantamos cinzas que nunca vão florescer no jardim de nossos sonhos!"



"Mas as palavras sempre me vieram como culpa, quase nunca como estrelas..."
Sérgio vaz.