sexta-feira, 25 de junho de 2010

Honestidade.

"Eu só queria pedir pra você um pouco mais de honestidade.
Quanto é que custa falar a verdade? 
Eu sei, não vai mudar, vou continuar a me iludir.
E fingir acreditar... que um dia pode ser melhor viver aqui.

Pra onde vão os meus impostos e as minhas multas por atraso?
Por que comerciais escondendo a verdade com letras pequenas, lá em baixo?
Eu queria ser honesto o suficiente pra dizer: Nada vai mudar, é aqui, na merda, que vamos morrer.


Mas não posso.
Tenho que ser o porto seguro do meu amor e da minha família.
Se eu for falar a verdade, vou piorar.
Deixo meu niilismo e minhas desesperanças naquela caixa escrita 'honestidade' que comprei, a prazo, com desconto. Sem consulta no serviço de proteção, e mesmo assim, ninguém dá crédito pra ela.
E eu vou pagar pelo resto da vida, eu não tive tempo de ler o contrato...
Tinha de ir trabalhar.
Afinal, tenho que ser o porto seguro do meu e da minha família.


Mas claro, a culpa é minha.
Quem mandou nascer terceiro mundista?


Na parte do comercial internacional que dizia ser um dos países mais ricos do mundo, estava escrito bem pequeno, lá no canto, que também é o mais desigual.
Mas não deu tempo de ler tudo, o comercial tem 15 segundos. É seu tempo pra assinar o contrato.
E as letras são tão pequenas... Do tamanho exato da importância que merece, pra quem não vai se importar mesmo, afinal, é comprar a pátria ou comprar a passagem. E assim, nos tornamos brasileiros.*


E eu comprei a pátria.
As prestações são vitalícias, e se chamam impostos.
Achei que nesse pacote, dentro da caixa, vinha um pouco de verdade.
Mas, pra ser honesto, agora é tarde."
08/06/10 04:15A.M
Com complemento feitos agora.
* Referência à Cazuza: "É matar ou morrer, e assim nos tornamos brasileiros."
Acho que misturei a ideia inicial sobre o tema com toda a mentira do nosso país.
Talvez separe-os depois, é que esse negócio de copa, tá me fudendo!



Eita...
Mil anos tentando arrumar isso e nada ainda dá certo.
E mais uma vez eu capotando na madruga.
É, trabalhar é um lixo, mas não trabalhar é um lixo pobre haha -n


Bom, como ainda continuo com esses problemas idiotas para formatar o modelo do blog, a postagem vai curta.
To com uns rascunhos e tal..
Hoje, pus um dos últimos que fiz, e um trechinho do poema de F. Pessoa (clássico, qual to me inspirando pra próxima, junto com Nietzsche)
Se alguém ler, comenta, fala, tomar que gostem, isso é, SE alguém ler, e gostaria de opinião sobre como tá o blog agora, se antes tava melhor e tal...
Fora tudo isso, segue o poema, e beijos que já já meu amor me liga pra ver jogo (L)



    POEMA EM LINHA RETA 
    Fernando Pessoa (Álvaro Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.