quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Diário De Bordo - Capítulo 3

O Capitão, número 1, estava assustado a esse ponto.
No total eramos em 8, dois capitães e seis soldados, e eu era um soldado, o número 7.
Os Capitães tinham os números 1 e 2, mesmo com títulos diferenciados, os números ajudavam a nos comunicar via rádio.
Como dizia um famoso pensador, é só na hora da morte que a gente sabe como uma pessoa realmente é. Apesar de não ser um momento final, a nossa queda era iminente.
O Capitão 2 nem se levantava mais, se entupia nos poucos goles de alcóol que pudemos levar.
Outro pensamento que me assola é: Por quê nos colocaram nomes/termos de guerra? Capitão, soldado, 'em guarda', etc..
Levamos até algumas armas. Pra que artilharia? 
Lembro que saímos com a missão de 'estudo e reconhecimento'.
Nenhum de nós é cientista.

Mas ainda achavam que já estávamos maduros e inteligentes o suficiente pra sairmos de casa buscando outro lugar.
Isso não é como sair pra brincar de esconde-esconde.
As pessoas ainda não encontraram a paz e a harmonia.
Ainda vivemos sob o preconceito, racismo, patriarcado, inveja, ganância, entre outros. Ainda vivemos pra acumular pedaços de papel e títulos que nos conferem nobreza.
Vivemos pra ter saldo e não pra ser sábio.
E até hoje ninguém sabe onde é Hy Brazil.
Saímos de casa sem nunca brincar no quintal.

Bem como eu citei antes, essa situação agora se repetia constantemente.
A situação de conhecer a morte.
Por algum motivo, alguma experiência que eu vivi na juventude, eu já não era afetado por esses medos.
Eu já enfrentei a morte vezes antes dessa. 
Eu percebi que todos eles agiam com medo, mesmo sabendo que a morte era inevitável.
Vi que eu não estranhava, pois isso era tão comum onde eu morava.
A desilusão, a falta de vontade de qualquer coisa que fugisse a rotina de fazer o trabalho.
A cegueira funcional, todos eles ficavam vendo vídeos de humor óbvio e repetido, afinal era o que tínhamos pra ver aqui por cima por alguns anos.
E o alcóol que nos foi permitido para as noites de descanso, agora era café, almoço e jantar.
E ninguém conversava.
Éramos oito e ninguém mais falava mais que o necessário, mas todos falavam sozinhos, falavam de planos que não foram realizados.
Isso era tão mundano e tão terrestre.
Estava a anos-luz da Terra e me sentia tão em casa agora.
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Muita gente morria sem nem se conhecer.
Poucos vivemos evitando a morte, e eventualmente morrem mais cedo, mas viveram.
Mas o pior é gente que morre vivo.
Alguns aos 20, ou 30, ou só aos 50, mas acaba acontecendo com muita gente.
Vive esperando o final.
Vive de pura repetição. E o inferno é a repetição.
"Viver é coisa rara, a maioria das pessoas apenas existe." - Wilde


Diário de bordo, capítulo 3.
A viagem entre nós mesmos.tir.
Soldado 7.
Espero não ter me feito claro, dói dizer tanto quanto dói sentir.